Curso

A simplicidade de Deus

Este curso visa expor a concepção de São Tomás de Aquino sobre simplicidade de Deus, que será exposta em oito aulas, referentes a cada um dos oito artigos da terceira questão da primeira parte da Suma Teológica.

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É investigado aqui o primeiro artigo da terceira questão da primeira parte da Suma Teológica. Neste artigo, mostra-se que Deus não é corpo de três modos. Primeiro, porque todo corpo que move é movido; e Deus é imóvel. Segundo, porque Deus está plenamente em ato; porém todo corpo se encontra em potência. Terceiro, Deus é o mais nobre dos entes; e o corpo não é o mais nobre dos entes.

Textos:

“Conhecida a existência de algo (an sit), falta investigar como é (quomodo sit), a fim de saber o que ele é (quid sit). Mas porque de Deus não podemos saber o que é, mas o que não é, não podemos considerar de que modo Deus é, mas antes de que modo não é. Assim, primeiro deve-se considerar de que modo não é; segundo, de que modo é conhecido por nós; terceiro, de que modo Ele é nomeado. Pode-se mostrar como Deus não é, afastando d’Ele o que não lhe pode convir, como: ser composto, estar em movimento etc. Assim, primeiro, pergunta-se sobre a simplicidade de Deus, pela qual d’Ele se exclui a composição. Como, porém, nas coisas corporais, as simples são as menos perfeitas e fazem parte das outras, pergunta-se, segundo, sobre sua perfeição; terceiro, sobre sua infinidade; quarto, sobre sua imutabilidade; e, quinto, sobre sua unidade.” (STh., I, q.3, pr.)

Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. São Paulo: Loyola. 2ªed. 2003.

“Cognito de aliquo an sit, inquirendum restat quomodo sit, ut sciatur de eo quid sit. Sed quia de Deo scire non possumus quid sit, sed quid non sit, non possumus considerare de Deo quomodo sit, sed potius quomodo non sit. Primo ergo considerandum est quomodo non sit; secundo, quomodo a nobis cognoscatur; tertio, quomodo nominetur. Potest autem ostendi de Deo quomodo non sit, removendo ab eo ea quae ei non conveniunt, utpote compositionem, motum, et alia huiusmodi. Primo ergo inquiratur de simplicitate ipsius, per quam removetur ab eo compositio. Et quia simplicia in rebus corporalibus sunt imperfecta et partes, secundo inquiretur de perfectione ipsius; tertio, de infinitate eius; quarto, de immutabilitate; quinto, de unitate. Circa primum quaeruntur octo. Primo, utrum Deus sit corpus. Secundo, utrum sit in eo compositio formae et materiae. Tertio, utrum sit in eo compositio quidditatis, sive essentiae, vel naturae, et subiecti. Quarto, utrum sit in eo compositio quae est ex essentia et esse. Quinto, utrum sit in eo compositio generis et differentiae. Sexto, utrum sit in eo compositio subiecti et accidentis. Septimo, utrum sit quocumque modo compositus, vel totaliter simplex. Octavo, utrum veniat in compositionem cum aliis.” (STh., I, q.3, pr.) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1003.html

“É preciso dizer de modo absoluto: Deus não é um corpo, o que se pode demonstrar de três maneiras. 1. Porque nenhum corpo move se não é movido, como ensina a experiência de cada caso. Ora, foi demonstrado que Deus é o primeiro motor imóvel. Logo, fica claro que Ele não é um corpo. 2. Porque o que é o primeiro ente tem de estar necessariamente em ato, de modo algum em potência. Embora em uma única e mesma coisa que passa da potência ao ato, a potência seja anterior ao ato no tempo; no entanto, absolutamente falando, o ato é anterior à potência, pois o que está em potência só é levado ao ato por um ente em ato. Ora, foi mostrado acima que Deus é o primeiro ente. É, por conseguinte, impossível a existência em Deus (in Deo sit) de algo em potência. Ora, todo corpo se encontra em potência, pois o contínuo, como tal, é divisível ao infinito. É então impossível que Deus seja um corpo. 3. Deus é o que há de mais nobre entre os entes, como foi explicado. Ora, é impossível que um corpo seja o mais nobre dos entes. Pois um corpo é vivo ou não vivo; o corpo vivo é manifestamente mais nobre do que o corpo não vivo. Por outro lado, o corpo vivo não vive por ser corpo, pois se assim fosse todo corpo viveria; é preciso que viva por alguma outra coisa, como nosso corpo vive pela alma. Ora, o que leva o corpo a viver é mais nobre do que ele. Por conseguinte, é impossível Deus ser um corpo.” (STh., I, q.3, a.1, resp.) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1003.html

“Respondeo dicendum absolute Deum non esse corpus. Quod tripliciter ostendi potest. Primo quidem, quia nullum corpus movet non motum, ut patet inducendo per singula. Ostensum est autem supra quod Deus est primum movens immobile. Unde manifestum est quod Deus non est corpus. Secundo, quia necesse est id quod est primum ens, esse in actu, et nullo modo in potentia. Licet enim in uno et eodem quod exit de potentia in actum, prius sit potentia quam actus tempore, simpliciter tamen actus prior est potentia, quia quod est in potentia, non reducitur in actum nisi per ens actu. Ostensum est autem supra quod Deus est primum ens. Impossibile est igitur quod in Deo sit aliquid in potentia. Omne autem corpus est in potentia, quia continuum, inquantum huiusmodi, divisibile est in infinitum. Impossibile est igitur Deum esse corpus. Tertio, quia Deus est id quod est nobilissimum in entibus, ut ex dictis patet. Impossibile est autem aliquod corpus esse nobilissimum in entibus. Quia corpus aut est vivum, aut non vivum. Corpus autem vivum, manifestum est quod est nobilius corpore non vivo. Corpus autem vivum non vivit inquantum corpus, quia sic omne corpus viveret, oportet igitur quod vivat per aliquid aliud, sicut corpus nostrum vivit per animam. Illud autem per quod vivit corpus, est nobilius quam corpus. Impossibile est igitur Deum esse corpus.”

Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. São Paulo: Loyola. 2ªed. 2003.

“Deve-se dizer que, como foi explicado acima, a Sagrada Escritura nos transmite as coisas divinas e espirituais mediante imagens corporais. Daí que, quando atribui a Deus as três dimensões, ela designa, mediante imagem de uma quantidade corporal, a quantidade de seu poder. Assim, pela profundidade designa o poder de conhecer o que é oculto; pela altura, a superioridade de seu poder sobre tudo; pelo comprimento, a duração de sua existência; pela largura, a disposição de seu amor por todas as coisas. – Ou ainda, segundo Dionísio: ‘Pela profundidade de Deus se entende a incompreensibilidade de sua essência; pelo comprimento, a extensão de seu poder, que tudo penetra; pela largura, a amplitude de sua presença, pois tudo está contido sob sua proteção.” (STh., I, q.3, a.1, sol.1)

“Ad primum ergo dicendum quod, sicut supra dictum est, sacra Scriptura tradit nobis spiritualia et divina sub similitudinibus corporalium. Unde, cum trinam dimensionem Deo attribuit, sub similitudine quantitatis corporeae, quantitatem virtualem ipsius designat, utpote per profunditatem, virtutem ad cognoscendum occulta; per altitudinem, excellentiam virtutis super omnia; per longitudinem, durationem sui esse; per latitudinem, affectum dilectionis ad omnia. Vel, ut dicit Dionysius, cap. IX de Div. Nom., per profunditatem Dei intelligitur incomprehensibilitas ipsius essentiae; per longitudinem, processus virtutis eius, omnia penetrantis; per latitudinem vero, superextensio eius ad omnia, inquantum scilicet sub eius protectione omnia continentur.” (STh., I, q.3, a.1, sol.1) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1003.html

Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. São Paulo: Loyola. 2ªed. 2003.

“Deve-se dizer que o homem é à imagem de Deus, não segundo seu corpo, mas segundo aquilo pelo que o homem supera os outros animais. Eis por que, depois das palavras ‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança’, o Gênesis acrescenta: ‘para que domine sobre os peixes do mar…’ Ora, o homem é superior a todos os animais pela razão e pelo intelecto. Portanto, é segundo o intelecto e a razão, que são incorpóreos, que o homem é à imagem de Deus.” (STh., I, q.3, a.1, sol.2)

“Ad secundum dicendum quod homo dicitur esse ad imaginem Dei, non secundum corpus, sed secundum id quo homo excellit alia animalia, unde, Gen. I, postquam dictum est, faciamus hominem ad imaginem et similitudinem nostram, subditur, ut praesit piscibus maris, et cetera. Excellit autem homo omnia animalia quantum ad rationem et intellectum. Unde secundum intellectum et rationem, quae sunt incorporea, homo est ad imaginem Dei.” (STh., I, q.3, a.1, sol.2) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1003.html

Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. São Paulo: Loyola. 2ªed. 2003.

“Deve-se dizer que na Escritura partes corpóreas são atribuídas a Deus em razão de sua ação, segundo alguma semelhança; como o ato do olho é ver, daí que o olho dito de Deus significa sua capacidade de ver pela inteligência, não pelos sentidos. E de modo semelhante se diz com relação às outras partes.” (STh., I, q.3, a.1, sol.3)

Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. São Paulo: Loyola. 2ªed. 2003.

“Ad tertium dicendum quod partes corporeae attribuuntur Deo in Scripturis ratione suorum actuum, secundum quandam similitudinem. Sicut actus oculi est videre, unde oculus de Deo dictus, significat virtutem eius ad videndum modo intelligibili, non sensibili. Et simile est de aliis partibus.” (STh., I, q.3, a.1, sol.3) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1003.html

“Deve-se dizer que o que se refere à posição não é atribuído a Deus senão segundo certa semelhança: diz-se que está sentado, em razão de sua imutabilidade e de sua autoridade; e em pé, por causa de sua força, capaz de vencer todos os adversários.” (STh., I, q.3, a.1, sol.4)

Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. São Paulo: Loyola. 2ªed. 2003.

“Ad quartum dicendum quod etiam ea quae ad situm pertinent, non attribuuntur Deo nisi secundum quandam similitudinem, sicut dicitur sedens, propter suam immobilitatem et auctoritatem; et stans, propter suam fortitudinem ad debellandum omne quod adversatur.” (STh., I, q.3, a.1, sol.4) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1003.html

“Deve-se dizer que de Deus não se aproxima mediante passos do corpo, pois Ele se encontra em toda a parte, mas pelos sentimentos da alma, e assim também dele se afasta. Dessa forma, a aproximação ou o afastamento, sob a imagem do movimento local, designa um sentimento espiritual.” (STh., I, q.3, a.1, sol.5) Estes são os textos bíblicos sobre os quais esta resposta se refere: “Aproximai-vos d’Ele e recebereis sua luz” (Sl 33,6) e “Todos os que te abandonam serão inscritos na terra.” (Jr 17, 13), contidos neste argumento: (STh., I, q.3, a.1, obj.5)

Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. São Paulo: Loyola. 2ªed. 2003.

“Ad quintum dicendum quod ad Deum non acceditur passibus corporalibus, cum ubique sit, sed affectibus mentis, et eodem modo ab eo receditur. Et sic accessus et recessus, sub similitudine localis motus, designant spiritualem affectum.” (STh., I, q.3, a.1, sol.5) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1003.html

Accedite ad eum, et illuminamini” (Sl 33,6); “recedentes a te in terra scribentur” (Jr 17, 13). (STh., I, q.3, a.1, obj.5) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1003.html

É investigado aqui o segundo artigo da terceira questão da primeira parte da Suma Teológica. Neste artigo, mostra-se que não é possível haver matéria em Deus de três modos. Primeiro, porque a matéria está em potência; e Deus é ato puro. Segundo, porque os compostos de matéria e forma são bons por participação; mas Deus é bom por essência. Terceiro, porque Deus é forma por sua essência, por ser a causa eficiente primeira, e não um composto de matéria e forma.

Textos:

“Todo composto de matéria e de forma é corpo; pois a quantidade dimensiva é o que primeiro inere à matéria. Ora, como se mostrou, Deus não é um corpo. Logo, não é composto de matéria e de forma.” (STh., I, q.3, a.2, s.c.)

Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. São Paulo: Loyola. 2ªed. 2003.

“Sed contra, omne compositum ex materia et forma est corpus, quantitas enim dimensiva est quae primo inhaeret materiae. Sed Deus non est corpus, ut ostensum est. Ergo Deus non est compositus ex materia et forma.” (STh., I, q.3, a.2, s.c.) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1003.html

“É impossível haver em Deus alguma matéria. Primeiro, porque a matéria é o que está em potência. Já se demonstrou que Deus é ato puro, n’Ele não existindo nada de potencial. Por isso, é impossível que Deus seja composto de matéria e de forma. Segundo, porque a perfeição e a bondade de todo composto de matéria e de forma lhe vêm de sua forma: portanto, é necessário que seja bom por participação, segundo que a matéria participa da forma. Ora, Deus, o bem primeiro e ótimo, não é bom por participação; pois o que é bom por essência é anterior ao que é bom por participação. Portanto, é impossível que Deus seja composto de matéria e forma. Terceiro, porque todo agente age por sua forma. Portanto, conforme alguma coisa está para sua forma, assim está para o fato de ser agente. Em consequência, o que é primeiro e agente por si é necessário que seja forma por si mesmo e primeiramente. Ora, Deus é o primeiro agente, sendo a primeira causa eficiente, como foi mostrado. É, pois, forma por sua essência, e não composto de matéria e de forma.” (STh., I, q.3, a.2, resp.)

Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. São Paulo: Loyola. 2ªed. 2003.

“Respondeo dicendum quod impossibile est in Deo esse materiam. Primo quidem, quia materia est id quod est in potentia. Ostensum est autem quod Deus est purus actus, non habens aliquid de potentialitate. Unde impossibile est quod Deus sit compositus ex materia et forma. Secundo, quia omne compositum ex materia et forma est perfectum et bonum per suam formam, unde oportet quod sit bonum per participationem, secundum quod materia participat formam. Primum autem quod est bonum et optimum, quod Deus est, non est bonum per participationem, quia bonum per essentiam, prius est bono per participationem. Unde impossibile est quod Deus sit compositus ex materia et forma. Tertio, quia unumquodque agens agit per suam formam, unde secundum quod aliquid se habet ad suam formam, sic se habet ad hoc quod sit agens. Quod igitur primum est et per se agens, oportet quod sit primo et per se forma. Deus autem est primum agens, cum sit prima causa efficiens, ut ostensum est. Est igitur per essentiam suam forma; et non compositus ex materia et forma.” (STh., I, q.3, a.2, resp.) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1003.html

É investigado aqui o terceiro artigo da terceira questão da primeira parte da Suma Teológica. Neste artigo, mostra-se que Deus é o mesmo que sua essência ou natureza. Inicia-se com a distinção de que nas coisas compostas de matéria e forma, há distinção de essência ou natureza e supósito, como no ser humano. Porém, como em Deus não há essa composição de matéria e forma, nem Ele é uma substância criada, então Deus é sua divindade, sua própria forma.

Textos:

“Deus é o mesmo que sua essência ou natureza. Para entender isso é preciso saber que nas coisas compostas de matéria e de forma há necessariamente distinção entre natureza ou essência, e supósito. Isso porque a natureza ou essência compreende apenas o que está contido na definição da espécie; assim, humanidade compreende o que está contido na definição do homem. É pelo que está contido na definição que o homem é homem, e é o que significa a palavra humanidade, isto é, aquilo pelo qual o homem é homem. Mas a matéria individual, com todos os acidentes que a individualizam, não está contida na definição da espécie; pois a definição de homem não contém esta carne, estes ossos, a brancura, a pretidão, etc. Por conseguinte, esta carne, estes ossos e os acidentes que determinam esta matéria não estão incluídos na noção de humanidade, e, no entanto, estão incluídos no que é o homem. Segue-se que o que é o homem tem algo em si que a humanidade não tem. Assim, não são totalmente a mesma coisa homem e humanidade, mas a humanidade é entendida como sua parte formal; pois os elementos da definição, com relação à matéria individualizante, se comportam como formas. Portanto, naquilo que não é composto de matéria e de forma, cuja individuação não vem de uma matéria individual, isto é, dessa matéria, mas que se individualiza pela própria forma, é necessário que esta forma seja supósito subsistente. Logo, nele o supósito não se distingue da natureza. Assim, como Deus não é composto de matéria e de forma, como foi demonstrado, é necessário que Ele seja sua própria deidade, sua vida e qualquer outra coisa que a Ele se atribua.” (STh., I, q.3, a.3, resp.)

Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. São Paulo: Loyola. 2ªed. 2003.

“Respondeo dicendum quod Deus est idem quod sua essentia vel natura. Ad cuius intellectum sciendum est, quod in rebus compositis ex materia et forma, necesse est quod differant natura vel essentia et suppositum. Quia essentia vel natura comprehendit in se illa tantum quae cadunt in definitione speciei, sicut humanitas comprehendit in se ea quae cadunt in definitione hominis, his enim homo est homo, et hoc significat humanitas, hoc scilicet quo homo est homo. Sed materia individualis, cum accidentibus omnibus individuantibus ipsam, non cadit in definitione speciei, non enim cadunt in definitione hominis hae carnes et haec ossa, aut albedo vel nigredo, vel aliquid huiusmodi. Unde hae carnes et haec ossa, et accidentia designantia hanc materiam, non concluduntur in humanitate. Et tamen in eo quod est homo, includuntur, unde id quod est homo, habet in se aliquid quod non habet humanitas. Et propter hoc non est totaliter idem homo et humanitas, sed humanitas significatur ut pars formalis hominis; quia principia definientia habent se formaliter, respectu materiae individuantis. In his igitur quae non sunt composita ex materia et forma, in quibus individuatio non est per materiam individualem, idest per hanc materiam, sed ipsae formae per se individuantur, oportet quod ipsae formae sint supposita subsistentia. Unde in eis non differt suppositum et natura. Et sic, cum Deus non sit compositus ex materia et forma, ut ostensum est, oportet quod Deus sit sua deitas, sua vita, et quidquid aliud sic de Deo praedicatur.” (STh., I, q.3, a.3, resp.) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1003.html

É investigado aqui o quarto artigo da terceira questão da primeira parte da Suma Teológica. Explicam três modos pelos quais é possível mostrar que Deus é seu ser. Primeiro, porque Ele é a causa eficiente primeira, e o que tem ser distinto de sua essência, é causado por outro. Segundo, porque o ser se refere à essência que é distinta do mesmo, como o ato em relação à potência; mas em Deus nada é potencial. Terceiro, porque se Deus não fosse seu próprio ser, Ele seria por participação, mas isso é absurdo, pois Deus é por essência. Logo, também é seu ser.

Textos:

“Deus não somente é sua essência, como foi demonstrado, mas também seu ser; o que se pode provar de diversas maneiras. 1. Porque o que existe em algo que não pertence à sua essência tem de ser causado ou pelos princípios da essência, como os acidentes próprios da espécie; o riso, por exemplo, pertence ao homem e é causado pelos princípios essenciais de sua espécie; ou por algo exterior, como o calor da água é causado pelo fogo. Portanto, se o próprio ser de uma coisa é distinto de sua essência, é necessário que este ser seja causado ou por algo exterior ou pelos princípios essenciais dessa coisa. É impossível, no entanto, que o ser seja causado apenas pelos princípios essenciais da coisa; pois nenhuma coisa é capaz de ser sua causa de ser, se este ser é causado. É preciso, pois, que o que tem o seu ser distinto de sua essência o tenha causado por outro. Ora, não se pode dizer isso de Deus, porque dizemos que Ele é a causa eficiente primeira. Logo, é impossível que em Deus uma coisa seja o ser e outra a essência. 2. Porque o ser é a atualização de qualquer forma ou natureza. Não se entende a bondade ou a humanidade em ato a não ser enquanto as entendemos como existindo (esse). É preciso então que o ser seja referido à essência, que é distinta dele, como o ato em relação à potência. E como em Deus nada é potencial, como foi mostrado acima, segue-se que n’Ele a essência não é distinta de seu ser. Sua essência é, portanto, seu ser. 3. Porque assim como o que tem fogo e não é o fogo tem o fogo por participação, também o que tem o ser e não é o ser, é um ente por participação. Ora, Deus é sua essência, como foi mostrado. Portanto, se não fosse seu próprio ser, Ele seria um ente por participação, e não por essência. Não seria então o primeiro ente, o que é um absurdo. Logo, Deus é o seu ser, e não apenas sua essência.” (STh., I, q.3, a.4, resp.)

Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. São Paulo: Loyola. 2ªed. 2003.

“Respondeo dicendum quod Deus non solum est sua essentia, ut ostensum est, sed etiam suum esse. Quod quidem multipliciter ostendi potest. Primo quidem, quia quidquid est in aliquo quod est praeter essentiam eius, oportet esse causatum vel a principiis essentiae, sicut accidentia propria consequentia speciem, ut risibile consequitur hominem et causatur ex principiis essentialibus speciei; vel ab aliquo exteriori, sicut calor in aqua causatur ab igne. Si igitur ipsum esse rei sit aliud ab eius essentia, necesse est quod esse illius rei vel sit causatum ab aliquo exteriori, vel a principiis essentialibus eiusdem rei. Impossibile est autem quod esse sit causatum tantum ex principiis essentialibus rei, quia nulla res sufficit quod sit sibi causa essendi, si habeat esse causatum. Oportet ergo quod illud cuius esse est aliud ab essentia sua, habeat esse causatum ab alio. Hoc autem non potest dici de Deo, quia Deum dicimus esse primam causam efficientem. Impossibile est ergo quod in Deo sit aliud esse, et aliud eius essentia. Secundo, quia esse est actualitas omnis formae vel naturae, non enim bonitas vel humanitas significatur in actu, nisi prout significamus eam esse. Oportet igitur quod ipsum esse comparetur ad essentiam quae est aliud ab ipso, sicut actus ad potentiam. Cum igitur in Deo nihil sit potentiale, ut ostensum est supra, sequitur quod non sit aliud in eo essentia quam suum esse. Sua igitur essentia est suum esse. Tertio, quia sicut illud quod habet ignem et non est ignis, est ignitum per participationem, ita illud quod habet esse et non est esse, est ens per participationem. Deus autem est sua essentia, ut ostensum est. Si igitur non sit suum esse, erit ens per participationem, et non per essentiam. Non ergo erit primum ens, quod absurdum est dicere. Est igitur Deus suum esse, et non solum sua essentia.” Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1003.html

É investigado aqui o primeiro artigo da terceira questão da primeira parte da Suma Teológica. Mostra-se que Deus não está em gênero algum de nenhum modo, nem de modo absoluto, nem por redução. E se diz que Deus não está de modo absoluto em um gênero, como as espécies de um gênero, de três maneiras. Primeira, porque aquilo que constitui a espécie se relaciona com aquilo do qual procede o gênero como a relação do ato com potência; mas em Deus não se acrescenta potência ao ato. Segunda, porque o ser de Deus é sua essência. E se Ele estivesse em um gênero estaria no gênero ente. Porém, o ente não pode ser gênero, pois toda diferença desse gênero seria o não ente, o que não pode ocorrer. Terceira, porque as coisas que pertençam a um gênero têm em si a distinção de ser e essência. Mas isso não ocorre em Deus. Logo, Deus não está em um gênero como uma espécie. Após isso, mostra-se que Deus não está em um gênero por redução, como princípio, pois o princípio de um gênero não ultrapassa tal gênero. Porém, Deus é o princípio de todo ser, e assim não está contido em algum gênero por redução, como se fosse um princípio.

Textos:

“Algo está em um gênero de duas maneiras. Ou de modo absoluto e próprio, como as espécies, abarcadas por um gênero. Ou por redução, como os princípios e as privações; assim o ponto e a unidade se reduzem ao gênero da quantidade, como princípios; a cegueira, ou qualquer outra privação, se reduz ao gênero de seu habitus. Em nenhum desses dois modos, Deus está em um gênero. Que Deus não possa ser espécie de um gênero, pode-se demonstrar de três maneiras: 1. Porque a espécie se constitui de gênero e diferença. A relação entre aquilo de que procede a diferença que constitui a espécie e aquilo de que procede o gênero é sempre uma relação de ato para potência. O termo animal toma-se da natureza sensitiva significada concretamente; diz-se animal o que possui natureza sensitiva. O outro termo, racional, toma-se da natureza intelectiva, pois racional é o que tem natureza intelectiva. Ora, o intelectivo está para o sensitivo como o ato para a potência, e o mesmo se dá com todo o restante. Como em Deus não se acrescenta potência ao ato, é impossível Deus estar em um gênero como se fosse uma espécie. 2. Porque o ser de Deus é sua essência, como se demonstrou, se Deus estivesse em um gênero, seria necessário que estivesse no gênero ente, pois o gênero designa a essência da coisa, sendo atribuído segundo a essência. Ora, o Filósofo, no livro III da Metafísica, demonstra que ente não pode ser o gênero de alguma coisa, pois todo gênero comporta diferenças que não pertencem à essência deste gênero. Ora, não existe diferença alguma que não pertença ao ente; porque o não ente não pode constituir uma diferença. Donde se conclui: Deus não está em gênero algum. 3. Porque todas as coisas que estão em um mesmo gênero têm em comum a quididade ou essência do gênero, que lhes é atribuída segundo a essência. Mas elas diferem quanto ao ser, pois não é o mesmo o ser do homem e do cavalo, nem o ser deste homem e o daquele homem. E assim é preciso que todas as coisas que pertencem a um gênero tenham em si distintos o ser e a essência. Ora, em Deus não há essa distinção, como se mostrou. Logo, Deus não está em um gênero como espécie. Isto prova que em Deus não há nem gênero nem diferenças; nem há uma definição d’Ele; nem uma demonstração, a não ser pelos efeitos. Pois, a definição é por gênero e diferença, e o termo médio da demonstração é a definição. Que Deus não esteja em um gênero por redução como princípio, é evidente porque o princípio que se reduz a um gênero não ultrapassa esse gênero; assim, o ponto só é princípio da quantidade contínua e a unidade da quantidade separada. Ora, Deus é o princípio de todo ser, como se mostrará. Não está, pois, contido em um gênero como princípio.” (STh., I, q.3, a.5, resp.)

Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. São Paulo: Loyola. 2ªed. 2003.

“Respondeo dicendum quod aliquid est in genere dupliciter. Uno modo simpliciter et proprie; sicut species, quae sub genere continentur. Alio modo, per reductionem, sicut principia et privationes, sicut punctus et unitas reducuntur ad genus quantitatis, sicut principia; caecitas autem, et omnis privatio, reducitur ad genus sui habitus. Neutro autem modo Deus est in genere. Quod enim non possit esse species alicuius generis, tripliciter ostendi potest. Primo quidem, quia species constituitur ex genere et differentia. Semper autem id a quo sumitur differentia constituens speciem, se habet ad illud unde sumitur genus, sicut actus ad potentiam. Animal enim sumitur a natura sensitiva per modum concretionis; hoc enim dicitur animal, quod naturam sensitivam habet, rationale vero sumitur a natura intellectiva, quia rationale est quod naturam intellectivam habet, intellectivum autem comparatur ad sensitivum, sicut actus ad potentiam. Et similiter manifestum est in aliis. Unde, cum in Deo non adiungatur potentia actui, impossibile est quod sit in genere tanquam species. Secundo, quia, cum esse Dei sit eius essentia, ut ostensum est, si Deus esset in aliquo genere, oporteret quod genus eius esset ens, nam genus significat essentiam rei, cum praedicetur in eo quod quid est. Ostendit autem philosophus in III Metaphys., quod ens non potest esse genus alicuius, omne enim genus habet differentias quae sunt extra essentiam generis; nulla autem differentia posset inveniri, quae esset extra ens; quia non ens non potest esse differentia. Unde relinquitur quod Deus non sit in genere. Tertio, quia omnia quae sunt in genere uno, communicant in quidditate vel essentia generis, quod praedicatur de eis in eo quod quid est. Differunt autem secundum esse, non enim idem est esse hominis et equi, nec huius hominis et illius hominis. Et sic oportet quod quaecumque sunt in genere, differant in eis esse et quod quid est, idest essentia. In Deo autem non differt, ut ostensum est. Unde manifestum est quod Deus non est in genere sicut species. Et ex hoc patet quod non habet genus, neque differentias; neque est definitio ipsius; neque demonstratio, nisi per effectum, quia definitio est ex genere et differentia, demonstrationis autem medium est definitio. Quod autem Deus non sit in genere per reductionem ut principium, manifestum est ex eo quod principium quod reducitur in aliquod genus, non se extendit ultra genus illud, sicut punctum non est principium nisi quantitatis continuae, et unitas quantitatis discretae. Deus autem est principium totius esse, ut infra ostendetur. Unde non continetur in aliquo genere sicut principium.” (STh., I, q.3, a.5, resp.) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1003.html  

É investigado aqui o sexto artigo da terceira questão da primeira parte da Suma Teológica. Mostra-se que em Deus não pode haver acidente por três razões. Primeira, porque a relação do sujeito com o acidente é como a potência para o ato; mas em Deus não há potência. Segunda, porque Deus é seu próprio ser, e este não pode ter qualquer acréscimo. Terceira, porque aquilo que é por si precede o que é por acidente. E Deus é absolutamente o primeiro ente. Logo, não há acidente em Deus.

Textos:

“Segundo as coisas que foram vistas, claramente em Deus não pode haver acidente. 1. Porque o sujeito está para o acidente como a potência para o ato. Pois, o sujeito, enquanto acidente, está de algum modo em ato. Ora, estar em potência exclui-se totalmente de Deus, como fica claro pelo já exposto. 2. Porque Deus é seu próprio ser. Ora, diz Boécio: ‘embora o que é possa ter por acréscimo alguma outra coisa, contudo, o mesmo ser não pode ter acréscimo nenhum’. Por exemplo, algo quente pode ter algo diferente do calor, como a brancura; mas o calor nada tem além do calor. 3. Porque o que é por si precede o que é por acidente. Logo, Deus sendo absolutamente o primeiro ente, nada nele pode existir por acidente. – Mesmo os acidentes por si, como a faculdade do riso é um acidente por si do homem, não podem existir em Deus. Estes acidentes são causados pelos princípios do sujeito; ora, em Deus nada pode ser causado, pois Ele é a causa primeira. Donde se conclui: nenhum acidente há em Deus.” (STh., I, q.3, a.6, resp.)

Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. São Paulo: Loyola. 2ªed. 2003.

“Respondeo dicendum quod, secundum praemissa, manifeste apparet quod in Deo accidens esse non potest. Primo quidem, quia subiectum comparatur ad accidens, sicut potentia ad actum, subiectum enim secundum accidens est aliquo modo in actu. Esse autem in potentia, omnino removetur a Deo, ut ex praedictis patet. Secundo, quia Deus est suum esse, et, ut Boetius dicit in Lib. de Hebdomad., licet id quod est, aliquid aliud possit habere adiunctum, tamen ipsum esse nihil aliud adiunctum habere potest, sicut quod est calidum, potest habere aliquid extraneum quam calidum, ut albedinem; sed ipse calor nihil habet praeter calorem. Tertio, quia omne quod est per se, prius est eo quod est per accidens. Unde, cum Deus sit simpliciter primum ens, in eo non potest esse aliquid per accidens. Sed nec accidentia per se in eo esse possunt, sicut risibile est per se accidens hominis. Quia huiusmodi accidentia causantur ex principiis subiecti, in Deo autem nihil potest esse causatum, cum sit causa prima. Unde relinquitur quod in Deo nullum sit accidens.” (STh., I, q.3, a.6, resp.) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1003.html

É investigado aqui o sétimo artigo da terceira questão da primeira parte da Suma Teológica. Mostra-se que Deus é totalmente simples de cinco maneiras. Primeira, porque em Deus não há composição de nenhuma maneira, conforme foi mostrado anteriormente. Segunda, porque todo composto é posterior aos seus componentes e também depende deles. E como Deus é o primeiro ente, Ele não é posterior a algum componente seu nem depende de algo. Terceira, porque todo composto tem uma causa; e Deus não tem causa. Quarta, porque todo composto deve existir em potência e ato; o que não há em Deus. Quinta, porque em todo composto há algo que não se identifica com esse composto, mas Deus é próprio ser. Logo, Deus é totalmente simples.

Textos:

“Que Deus seja totalmente simples se pode provar de várias maneiras. 1. Pelas coisas que foram ditas. Como em Deus não há composição nem de partes quantitativas, pois não é um corpo; nem de forma e de matéria, nem distinção de natureza e supósito; nem de essência e ser; nem composição de gênero e diferença, nem de sujeito e de acidente, fica claro que de nenhum modo Deus é composto, mas totalmente simples. 2. Porque todo composto é posterior a seus componentes e é depende deles. Ora, Deus é o primeiro ente, como foi mostrado acima. 3. Porque todo composto tem uma causa. Assim as coisas que por si são diversas não conformam uma unidade, a não ser por uma causa que as unifique. Ora, Deus não tem causa, como foi demonstrado, sendo a primeira causa eficiente. 4. Porque em todo composto, há de existir potência e ato, o que não há em Deus, porque, ou uma das partes é ato em relação à outra, ou pelo menos as partes se encontram todas em potência com respeito ao todo. 5. Porque todo composto é algo que não coincide com qualquer de suas partes. Isto é manifesto nas totalidades formadas de partes dessemelhantes: parte nenhuma do homem é o homem, e nenhuma parte do pé é o pé. Por outro lado, nas totalidades de partes semelhantes, embora algo que se diz do todo, se diga da parte, por exemplo; uma parte do ar é ar, uma parte da água é água, no entanto, algo diz-se do todo que não convém a alguma das partes; assim se toda água mede dois côvados, a sua parte não é desse modo. Por conseguinte, em todo composto existe algo que com ele não se identifica. Embora isso se possa dizer do que tem forma, a saber, que nele existe algo que não é ela (como em algo branco existe algo que não é da razão de branco), contudo, na forma mesma nada existe de estranho. Daí que, como Deus é a própria forma (ipsa forma), melhor dizendo, é o próprio ser (ipsum esse), de nenhum modo pode ser composto. Hilário assinala essa razão em seu livro A Trindade quando diz: ‘Deus, que é poder, não comporta fraquezas; sendo luz, não admite obscuridade’”. (STh., I, q.3, a.7, resp.)

Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. São Paulo: Loyola. 2ªed. 2003.

“Respondeo dicendum quod Deum omnino esse simplicem, multipliciter potest esse manifestum. Primo quidem per supradicta. Cum enim in Deo non sit compositio, neque quantitativarum partium, quia corpus non est; neque compositio formae et materiae, neque in eo sit aliud natura et suppositum; neque aliud essentia et esse, neque in eo sit compositio generis et differentiae; neque subiecti et accidentis, manifestum est quod Deus nullo modo compositus est, sed est omnino simplex. Secundo, quia omne compositum est posterius suis componentibus, et dependens ex eis. Deus autem est primum ens, ut supra ostensum est. Tertio, quia omne compositum causam habet, quae enim secundum se diversa sunt, non conveniunt in aliquod unum nisi per aliquam causam adunantem ipsa. Deus autem non habet causam, ut supra ostensum est, cum sit prima causa efficiens. Quarto, quia in omni composito oportet esse potentiam et actum, quod in Deo non est, quia vel una partium est actus respectu alterius; vel saltem omnes partes sunt sicut in potentia respectu totius. Quinto, quia omne compositum est aliquid quod non convenit alicui suarum partium. Et quidem in totis dissimilium partium, manifestum est, nulla enim partium hominis est homo, neque aliqua partium pedis est pes. In totis vero similium partium, licet aliquid quod dicitur de toto, dicatur de parte, sicut pars aeris est aer, et aquae aqua; aliquid tamen dicitur de toto, quod non convenit alicui partium, non enim si tota aqua est bicubita, et pars eius. Sic igitur in omni composito est aliquid quod non est ipsum. Hoc autem etsi possit dici de habente formam, quod scilicet habeat aliquid quod non est ipsum (puta in albo est aliquid quod non pertinet ad rationem albi), tamen in ipsa forma nihil est alienum. Unde, cum Deus sit ipsa forma, vel potius ipsum esse, nullo modo compositus esse potest. Et hanc rationem tangit Hilarius, VII de Trin., dicens, Deus, qui virtus est, ex infirmis non continetur, neque qui lux est, ex obscuris coaptatur.” (STh., I, q.3, a.7, resp.) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1003.html

É investigado aqui o oitavo artigo da terceira questão da primeira parte da Suma Teológica. Mostra-se que Deus não entra na composição das coisas de três maneiras. Primeira, porque Deus é a causa eficiente primeira, pois não há coincidência em número da causa eficiente com a forma da coisa feita; nem há coincidência em número da causa eficiente com a matéria, enquanto uma está em potência, e a outra em ato. Segunda, porque Deus age por primeiro e por si, e o que está como parte de um composto não age por primeiro e por si. Terceira, porque a parte de um composto não pode ser a primeira entre os entes, pois a matéria é posterior ao ato e a forma que está em um composto é uma forma participada. E Deus é o primeiro ente e é por essência.

Textos:

“Diz-se também no Livro das Causas que ‘a causa primeira rege todas as coisas sem a elas se misturar.’” (STh., I, q.3, a.8, s.c.2)

Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. São Paulo: Loyola. 2ªed. 2003.

“Praeterea, dicitur in libro de causis, quod causa prima regit omnes res, praeterquam commisceatur eis.” (STh., I, q.3, a.8, s.c.2) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1003.html

“Sobre este ponto houve três erros. Alguns afirmaram que Deus é a alma do mundo, como relata Agostinho na Cidade de Deus, e a isto se reduz o que alguns disseram, isto é, que Deus é a alma do primeiro céu. Outros disseram que Deus é o princípio formal de todas as coisas, e foi essa, como dizem, a opinião dos partidários de Amaury. Enfim, o terceiro erro é o de Davi de Dinant, que afirmou, da maneira mais insensata, que Deus é a matéria primeira. Mas tudo isso é manifestamente falso, pois não é possível que Deus de algum modo se encontre em composição com algo, seja como princípio formal, seja como princípio material. 1. Porque, como dissemos, Deus é causa eficiente primeira. Ora, a causa eficiente não coincide m número com a forma da coisa feita, mas apenas em espécie. Com efeito, um homem gera outro homem. A matéria, pelo contrário, não coincide com a causa eficiente nem em número nem na espécie, pois uma se encontra em potência e a outra em ato. 2. Como Deus é a causa eficiente primeira, a Ele pertence agir por primeiro e por si mesmo. Ora, o que entra como parte em um composto não é o que age primeiro e por si mesmo, é antes o composto. Assim, não é a mão que age, é o homem por sua mão; e o fogo aquece pelo calor. Deus não pode, por isso, ser parte de um composto. 3. Nenhuma parte de um composto pode, em absoluto, ser a primeira entre os entes, tampouco a matéria e a forma que são as primeiras partes dos compostos. Pois, a matéria está em potência, e, é absolutamente posterior ao ato, como fica claro a partir do que foi dito. A forma, por sua vez, que é parte do composto, é uma forma participada. Ora, assim como o participante é posterior ao que é por essência, o mesmo ocorre com a coisa participada. Por exemplo, o fogo numa matéria que está queimando é posterior ao fogo por essência. Ora, já se demonstrou que Deus é absolutamente o primeiro ente.” (STh., I, q.3, a.8, resp.)

Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. São Paulo: Loyola. 2ªed. 2003.

“Respondeo dicendum quod circa hoc fuerunt tres errores. Quidam enim posuerunt quod Deus esset anima mundi, ut patet per Augustinum in Lib. VII de civitate Dei, et ad hoc etiam reducitur, quod quidam dixerunt Deum esse animam primi caeli. Alii autem dixerunt Deum esse principium formale omnium rerum. Et haec dicitur fuisse opinio Almarianorum. Sed tertius error fuit David de Dinando, qui stultissime posuit Deum esse materiam primam. Omnia enim haec manifestam continent falsitatem, neque est possibile Deum aliquo modo in compositionem alicuius venire, nec sicut principium formale, nec sicut principium materiale. Primo quidem, quia supra diximus Deum esse primam causam efficientem. Causa autem efficiens cum forma rei factae non incidit in idem numero, sed solum in idem specie, homo enim generat hominem. Materia vero cum causa efficiente non incidit in idem numero, nec in idem specie, quia hoc est in potentia, illud vero in actu. Secundo, quia cum Deus sit prima causa efficiens, eius est primo et per se agere. Quod autem venit in compositionem alicuius, non est primo et per se agens, sed magis compositum, non enim manus agit, sed homo per manum; et ignis calefacit per calorem. Unde Deus non potest esse pars alicuius compositi. Tertio, quia nulla pars compositi potest esse simpliciter prima in entibus; neque etiam materia et forma, quae sunt primae partes compositorum. Nam materia est in potentia, potentia autem est posterior actu simpliciter, ut ex dictis patet. Forma autem quae est pars compositi, est forma participata, sicut autem participans est posterius eo quod est per essentiam, ita et ipsum participatum; sicut ignis in ignitis est posterior eo quod est per essentiam. Ostensum est autem quod Deus est primum ens simpliciter.” (STh., I, q.3, a.8, resp.) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1003.html