A existência de Deus
Este curso visa expor a concepção de São Tomás de Aquino sobre existência de Deus, que será exposta em doze aulas, referentes à segunda questão da primeira parte da Suma Teológica. As duas primeiras aulas serão sobre os dois artigos dessa questão. E as dez últimas aulas serão sobre o último artigo; duas para cada uma das cinco vias que demonstram a existência de Deus.
Aula 1 – É evidente por si que Deus é? (STh., I, q.2, a.1)
É investigado aqui o primeiro artigo da segunda questão da primeira parte da Suma Teológica. Neste artigo, que visa responder se Deus é evidente por si, inicia-se mostrando que uma coisa pode ser evidente de dois modos, por si e não para nós, ou por si e para nós. Depois, diz que ‘Deus é’ (Deus est) – que pode ser entendido como ‘Deus existe’, mas não do mesmo modo que qualquer outra coisa existe – é evidente por si, porém, pela limitação da natureza humana, porque nós não conhecemos a essência de Deus, essa proposição não é evidente para nós. Por causa disso, ela precisa ser demonstrada a partir das coisas que são mais conhecidas para nós. Assim é possível demonstrar que Deus é, a partir dos efeitos até chegar à necessidade de que a causa desses efeitos é.
Textos:
“De dois modos pode uma coisa ser conhecida por si: absolutamente, não relativamente a nós; e absolutamente e relativamente a nós. Pois qualquer proposição é conhecida por si, quando o predicado se inclui na noção do sujeito, p. ex.: O homem é um animal, pertencendo animal à noção de homem. Se, portanto, for conhecido de todos o que é o predicado e o sujeito, tal proposição será para todos evidente; como se dá com os primeiros princípios da demonstração, cujos termos – o ser e o não ser, o todo e a parte e semelhantes – são tão comuns que ninguém os ignora. Mas, para quem não souber o que são o predicado e o sujeito, a proposição não será evidente, embora o seja considerada em si mesma. E, por isso, como diz Boécio, certas concepções de espírito são comuns e conhecidas por si, mas só para os sapientes, como p.ex.: os seres incorpóreos não ocupam lugar. Digo, portanto, que a proposição Deus existe (Deus é – Deus est), quanto à sua natureza, é evidente, pois o predicado se identifica com o sujeito, sendo Deus o seu ser, como adiante se verá. Mas, como não sabemos o que é Deus, ela não nos é por si evidente, mas necessita de ser demonstrada, pelos efeitos mais conhecidos de nós e menos conhecidos por natureza.” (STh., I, q.2, a.1, resp.)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. Campinas: Ecclesiae. 4ªed. 2017.
“Respondeo dicendum quod contingit aliquid esse per se notum dupliciter, uno modo, secundum se et non quoad nos; alio modo, secundum se et quoad nos. Ex hoc enim aliqua propositio est per se nota, quod praedicatum includitur in ratione subiecti, ut homo est animal, nam animal est de ratione hominis. Si igitur notum sit omnibus de praedicato et de subiecto quid sit, propositio illa erit omnibus per se nota, sicut patet in primis demonstrationum principiis, quorum termini sunt quaedam communia quae nullus ignorat, ut ens et non ens, totum et pars, et similia. Si autem apud aliquos notum non sit de praedicato et subiecto quid sit, propositio quidem quantum in se est, erit per se nota, non tamen apud illos qui praedicatum et subiectum propositionis ignorant. Et ideo contingit, ut dicit Boetius in libro de hebdomadibus, quod quaedam sunt communes animi conceptiones et per se notae, apud sapientes tantum, ut incorporalia in loco non esse. Dico ergo quod haec propositio, Deus est, quantum in se est, per se nota est, quia praedicatum est idem cum subiecto; Deus enim est suum esse, ut infra patebit. Sed quia nos non scimus de Deo quid est, non est nobis per se nota, sed indiget demonstrari per ea quae sunt magis nota quoad nos, et minus nota quoad naturam, scilicet per effectus.” (STh., I, q.2, a.1, resp.) – Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1002.html
“Talvez quem ouve o nome de Deus não o intelige como significando o ser maior que o qual nada possa ser pensado; pois alguns acreditam ser Deus corpo. Porém, mesmo concedido que alguém intelija o nome de Deus com tal significação, a saber, maior do que o qual nada pode ser pensado, nem por isso daí se conclui que intelija a existência real (esse in rerum natura) do que significa tal nome, senão só na apreensão do intelecto. Nem se poderia afirmar que existe realmente, a menos que se não concedesse existir realmente algum ser tal que não se possa conceber outro maior, o que não é concedido pelos que negam a existência de Deus.” (STh., I, q.2, a.1, sol.2)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. Campinas: Ecclesiae. 4ªed. 2017.
“Ad secundum dicendum quod forte ille qui audit hoc nomen Deus, non intelligit significari aliquid quo maius cogitari non possit, cum quidam crediderint Deum esse corpus. Dato etiam quod quilibet intelligat hoc nomine Deus significari hoc quod dicitur, scilicet illud quo maius cogitari non potest; non tamen propter hoc sequitur quod intelligat id quod significatur per nomen, esse in rerum natura; sed in apprehensione intellectus tantum. Nec potest argui quod sit in re, nisi daretur quod sit in re aliquid quo maius cogitari non potest, quod non est datum a ponentibus Deum non esse.” (STh., I, q.2, a.1, sol.2) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1002.html
Aula 2 – É demonstrável que Deus é? (STh., I, q.2, a.2)
É investigado aqui o segundo artigo da segunda questão da primeira parte da Suma Teológica. Este artigo confirma o que foi visto no anterior e trata propriamente da possibilidade da demonstração de que Deus é. Inicia-se mostrando que há dois modos de demonstração, um, pela causa (propter quid); outro, pelos efeitos (quia). Depois se expõe que é possível demonstrar que uma causa é se se estabelece que seu efeito é, uma vez que há dependência dos efeitos em relação às suas causas. Assim, é possível demonstrar que Deus é a partir das coisas que nos são mais conhecidas, pelos efeitos.
Textos:
“Mas, em contrário, dia a Escritura (Rm 1, 20): ‘As coisas invisíveis de Deus se veem depois da criação do mundo, consideradas pelas obras que foram feitas’. Ora, isto não se daria, se a existência de Deus não se pudesse demonstrar pelas coisas feitas, pois o que primeiro se deve inteligir de um ser é se existe.” (STh., I, q.2, a.2, s.c.)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. Campinas: Ecclesiae. 4ªed. 2017.
“Sed contra est quod apostolus dicit, ad Rom. I, invisibilia Dei per ea quae facta sunt, intellecta, conspiciuntur. Sed hoc non esset, nisi per ea quae facta sunt, posset demonstrari Deum esse, primum enim quod oportet intelligi de aliquo, est an sit.” (STh., I, q.2, a.2, s.c.) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1002.html
“Há duas espécies de demonstração. Uma, pela causa, pelo porquê das coisas, a qual se apoia simplesmente nas causas primeiras. Outra, pelo efeito, que é chamada a posteriori, embora se baseie no que é primeiro para nós; quando um efeito nos é mais manifesto que a sua causa, por ele chegamos ao conhecimento desta. Ora, podemos demonstrar a existência da causa própria de um efeito, sem que este nos é mais conhecido que aquela; porque, dependendo os efeitos da causa, a existência deles pressupõe, necessariamente, a preexistência desta. Por onde, não nos sendo evidente, a existência de Deus é demonstrável pelos efeitos que conhecemos.” (STh., I, q.2, a.2, resp.)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. Campinas: Ecclesiae. 4ªed. 2017.
“Respondeo dicendum quod duplex est demonstratio. Una quae est per causam, et dicitur propter quid, et haec est per priora simpliciter. Alia est per effectum, et dicitur demonstratio quia, et haec est per ea quae sunt priora quoad nos, cum enim effectus aliquis nobis est manifestior quam sua causa, per effectum procedimus ad cognitionem causae. Ex quolibet autem effectu potest demonstrari propriam causam eius esse (si tamen eius effectus sint magis noti quoad nos), quia, cum effectus dependeant a causa, posito effectu necesse est causam praeexistere. Unde Deum esse, secundum quod non est per se notum quoad nos, demonstrabile est per effectus nobis notos.” (STh., I, q.2, a.2, resp.) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1002.html
“A existência de Deus e outras noções semelhantes que, pela razão natural, podem ser conhecidas de Deus, não são artigos de fé, como diz a Escritura (Rm 1, 19), mas preâmbulos a eles; pois, como a fé pressupõe o conhecimento natural, a graça pressupõe a natureza, e a perfeição, o perfectível. Nada, entretanto, impede ser aquilo, que em si é demonstrável e cognoscível, aceito como crível por alguém que não compreende a demonstração.” (STh., I, q.2, a.2, sol.1)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. Campinas: Ecclesiae. 4ªed. 2017.
“Ad primum ergo dicendum quod Deum esse, et alia huiusmodi quae per rationem naturalem nota possunt esse de Deo, ut dicitur Rom. I non sunt articuli fidei, sed praeambula ad articulos, sic enim fides praesupponit cognitionem naturalem, sicut gratia naturam, et ut perfectio perfectibile. Nihil tamen prohibet illud quod secundum se demonstrabile est et scibile, ab aliquo accipi ut credibile, qui demonstrationem non capit.” (STh., I, q.2, a.2, sol.1) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1002.html
Aula 3 – Deus é? A primeira via: o movimento – parte 1 (STh., I, q.2, a.3)
Este e os próximos vídeos são referentes ao terceiro artigo da questão 2 da primeira parte da Suma Teológica. Serão 10 vídeos para um único artigo, que busca demonstrar que Deus é através de 5 vias. Assim, cada via será dividida em dois vídeos; no primeiro, explicaremos a fundamentação teórica básica para compreender a noção utilizada para a cada via; no segundo, iremos diretamente ao texto da Suma Teológica próprio dessa via. Desse modo, como a primeira via se fundamento na noção de movimento, neste vídeo, será exposto, a partir do comentário de São Tomás à Metafísica de Aristóteles, que o movimento é entendido como certo ato imperfeito de alguma coisa que existe em potência, enquanto é reduzida ao ato.
Textos:
“Por cinco vias pode-se provar a existência (esse) de Deus. A primeira e mais manifesto é procedente do movimento (motus).” (STh., I, q.2, a.3, resp.)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. Campinas: Ecclesiae. 4ªed. 2017.
“Respondeo dicendum quod Deum esse quinque viis probari potest. Prima autem et manifestior via est, quae sumitur ex parte motus. Certum est enim, et sensu constat, aliqua moveri in hoc mundo.” (STh., I, q.2, a.3, resp.) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1002.html
“E, primeiro, expõe a definição mesma, dizendo que quando ente segundo cada gênero de ente se divide em potência e ato, o movimento se diz ser ato disto que está em potência enquanto tal.” (In Met., XI, 9, 6) – Tradução nossa.
“Et primo ponit definitionem ipsam, dicens, quod cum ens secundum unumquodque genus entis dividatur per potentiam et actum, motus dicitur esse actus eius, quod est in potentia inquantum huiusmodi.” (In Met., XI, 9, 6) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/cmp11.html
“Logo, como isso é assim, segue-se que o movimento é de alguma coisa existente em potência, quando é reduzida ao ato. E digo isso, a saber, que é reduzida ao ato, enquanto é móvel; pois móvel se diz algo por isto que está em potência para mover-se; e assim se reduz tal potência ao ato quando se move em ato; porém não tem a redução ao ato por movimento isto que está em potência enquanto o mesmo, isto é, segundo isto que está em ato, e segundo si mesmo. Pois isso também está em ato antes de começar a mover-se. Também não se reduz ao ato por movimento, segundo que está em potência com relação ao término do movimento, porque enquanto se move ainda permanece em potência para o término do movimento. Mas apenas pelo movimento algo se reduz da potência ao ato, dessa potência que é significada com algo que se diz ser móvel, isto é, que pode ser movido.” (In Met., XI, 9, 7) – Tradução nossa.
“Cum ergo ita sit, sequetur, quod motus est alicuius existentis in potentia, cum sit reductum ad actum. Et hoc dico, scilicet quod sit reductum ad actum, inquantum est mobile; nam mobile dicitur aliquid per hoc, quod est in potentia ad moveri; et sic reducitur huiusmodi potentia in actum quando movetur actu: non autem habet reduci in actum per motum id quod in potentia est inquantum ipsum, idest secundum id quod actu est, et secundum seipsum. Nam hoc etiam est in actu antequam incipiat moveri. Neque etiam reducitur ad actum per motum, secundum quod est in potentia ad terminum motus, qui dum movetur adhuc remanet in potentia ad terminum motus. Sed solum per motum reducitur aliquid de potentia in actum, de illa potentia quae significatur cum dicitur aliquid esse mobile, idest potens moveri.” (In Met., XI, 9, 7) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/cmp11.html
“Mas é necessário que o movimento seja certo ato, como foi provado acima; porém é ato imperfeito. E a causa disso é porque aquilo do qual é ato é imperfeito, e isso é ente possível ou ente em potência. Com efeito, se fosse ato perfeito, removeria toda potência, que está na matéria com relação a algo determinado. Por isso, os atos perfeitos não são atos de algo existente em potência, mas de algo existente em ato. Contudo, o movimento é de tal maneira da coisa existente em potência, que não remove a potência dele. Pois, enquanto é movimento, permanece a potência no móvel com relação a isso que intenta pelo movimento. Mas apenas a potência que era com relação ao mover-se é removida pelo movimento; e, porém, não totalmente; porque isso que é movido ainda está em potência para se mover, porque tudo que está sendo movido será movido, por causa da divisão do movimento contínuo, como foi provado no livro VI da Física. Por isso, resta que o movimento é ato do que existe em potência; e assim é ato imperfeito e de algo imperfeito.” (In Met., XI, 9, 17) – Tradução nossa.
“Sed oportet, quod motus sit actus quidam, ut supra probatum est: sed est actus imperfectus. Et huius causa est, quia illud cuius est actus, est imperfectum, et hoc est ens possibile sive ens potentia. Si enim esset actus perfectus, tolleret totam potentiam, quae est in materia ad aliquid determinatum. Unde actus perfecti non sunt actus existentis in potentia, sed existentis in actu. Motus autem ita est existentis in potentia, quod non tollit ab eo potentiam. Quamdiu enim est motus, remanet potentia in mobili ad id quod intendit per motum. Sed solum potentia quae erat ad moveri tollitur per motum; et tamen non totaliter; quia id quod movetur, adhuc in potentia est ad moveri, quia omne quod movetur, movebitur, propter divisionem motus continui, ut probatur in sexto physicorum. Unde relinquitur, quod motus est actus existentis in potentia: et sic est actus imperfectus et imperfecti.” (In Met., XI, 9, 17) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/cmp11.html
Aula 4 – Deus é? A primeira via: o movimento – parte 2 (STh., I, q.2, a.3)
Este vídeo é sobre o terceiro artigo da segunda questão da primeira parte da Suma Teológica. Utilizamos aqui como texto auxiliar o capítulo 13 do primeiro livro da Suma Contra os Gentios, que também trata das vias para demonstrar que Deus é. Busca-se aqui esclarecer a primeira via, fundamentada no movimento, para provar que Deus é segundo São Tomás de Aquino. Assim, a partir da noção de que tudo que se move é movido por outro, e de que não é possível proceder de modo infinito na sucessão de causas, é necessário que haja um motor primeiro que não seja movido por nada, que é Deus.
Textos:
“Pode-se provar a existência (esse) de Deus por cinco vias. A primeira, e a mais clara, parte do movimento. Nossos sentidos atestam, com toda a certeza, que neste mundo algumas coisas se movem. Ora, tudo o que se move é movido por outro. Nada se move que não esteja em potência em relação ao termo de ser movimento; ao contrário, o que move o faz enquanto se encontra em ato. Mover nada mais é, portanto, do que levar algo da potência ao ato, e nada pode ser levado ao ato senão por um ente em ato. Como algo quente em ato, por exemplo o fogo, torna a madeira que está em potência para o calor, quente em ato, e assim a move e altera. Ora, não é possível que a mesma coisa, considerada sob o mesmo aspecto, esteja simultaneamente em ato e em potência, a não ser sob aspectos diversos: por exemplo, o que está quente em ato não pode estar simultaneamente quente em potência, mas está frio em potência. É impossível que sob o mesmo aspecto e do mesmo modo algo seja motor e movido, ou que mova a si próprio. É preciso que tudo o que se move seja movido por outro. Assim, se o que move é também movido, o é necessariamente por outro, e este por outro ainda. Ora, não se pode continuar até o infinito, pois neste caso não haveria um primeiro motor, por conseguinte, tampouco outros motores, pois os motores segundos só se movem pela moção do primeiro motor, como o bastão, que só se move movido pela mão. É então necessário chegar a um primeiro motor, não movido por nenhum outro, e este, todos entendem: é Deus.” (STh., I, q.2, a.3, resp.)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. São Paulo: Loyola. 2ªed. 2003.
“Respondeo dicendum quod Deum esse quinque viis probari potest. Prima autem et manifestior via est, quae sumitur ex parte motus. Certum est enim, et sensu constat, aliqua moveri in hoc mundo. Omne autem quod movetur, ab alio movetur. Nihil enim movetur, nisi secundum quod est in potentia ad illud ad quod movetur, movet autem aliquid secundum quod est actu. Movere enim nihil aliud est quam educere aliquid de potentia in actum, de potentia autem non potest aliquid reduci in actum, nisi per aliquod ens in actu, sicut calidum in actu, ut ignis, facit lignum, quod est calidum in potentia, esse actu calidum, et per hoc movet et alterat ipsum. Non autem est possibile ut idem sit simul in actu et potentia secundum idem, sed solum secundum diversa, quod enim est calidum in actu, non potest simul esse calidum in potentia, sed est simul frigidum in potentia. Impossibile est ergo quod, secundum idem et eodem modo, aliquid sit movens et motum, vel quod moveat seipsum. Omne ergo quod movetur, oportet ab alio moveri. Si ergo id a quo movetur, moveatur, oportet et ipsum ab alio moveri et illud ab alio. Hic autem non est procedere in infinitum, quia sic non esset aliquod primum movens; et per consequens nec aliquod aliud movens, quia moventia secunda non movent nisi per hoc quod sunt mota a primo movente, sicut baculus non movet nisi per hoc quod est motus a manu. Ergo necesse est devenire ad aliquod primum movens, quod a nullo movetur, et hoc omnes intelligunt Deum.” (STh., I, q.2, a.3, resp.) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1002.html
“A primeira via é esta: tudo aquilo que se move é movido por outro (VII Física 21, 241; Cmt 1). É evidente aos sentidos que algo se move, como, por exemplo, o Sol. Logo, deve ser movido por outro movente. Ora, esse outro movente ou é movido ou não é. Se não é movido, confirma-se o nosso intento, isto é, o de que é necessário afirmar-se que há um movente imóvel. A este denominamos Deus. Se, porém, é movido, então o é por outro movente. Assim sendo, ou se deve proceder indefinidamente, ou se deve chegar a um movente imóvel. Mas como não se pode proceder indefinidamente, é necessário pôr um primeiro movente imóvel.” (SCG., I, 13, 3)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Contra os Gentios – volume 1. Porto Alegre: Sulina; UCS; ESTSLB. 1990.
“Quarum prima talis est: omne quod movetur, ab alio movetur. Patet autem sensu aliquid moveri, utputa solem. Ergo alio movente movetur. Aut ergo illud movens movetur, aut non. Si non movetur, ergo habemus propositum, quod necesse est ponere aliquod movens immobile. Et hoc dicimus Deum. Si autem movetur, ergo ab alio movente movetur. Aut ergo est procedere in infinitum: aut est devenire ad aliquod movens immobile. Sed non est procedere in infinitum. Ergo necesse est ponere aliquod primum movens immobile.” (SCG., I, 13, 3) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/scg1010.html
“O terceiro argumento é o seguinte (VIII Física 5, 257b; Cmt 10, 1053): Nenhuma coisa está simultaneamente e sob o mesmo aspecto em ato e em potência. Porém, tudo aquilo que é movido, enquanto se move está em potência, porque o movimento é ato daquilo que existe em potência enquanto está em potência (III Física 1, 201a; Cmt 2, 285). Tudo aquilo que move está em ato enquanto é movente, pois nada age senão enquanto está em ato. Logo, nada está, com referência ao mesmo movimento, como movente e movido. Logo, nada se move a si mesmo.” (SCG., I, 13, 9)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Contra os Gentios – volume 1. Porto Alegre: Sulina; UCS; ESTSLB. 1990.
“Tertio, probat sic. Nihil idem est simul actu et potentia respectu eiusdem. Sed omne quod movetur, inquantum huiusmodi, est in potentia: quia motus est actus existentis in potentia secundum quod huiusmodi. Omne autem quod movet est in actu, inquantum huiusmodi: quia nihil agit nisi secundum quod est in actu. Ergo nihil est respectu eiusdem motus movens et motum. Et sic nihil movet seipsum.” (SCG., I, 13, 9) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/scg1010.html
“Nos moventes e movidos ordenados, dos quais um é por ordem movido por outro, deve-se verificar que, removido o primeiro movente ou cessando o seu movimento, ele não mais moverá algum outro nem será movido, porque o primeiro é causa do movimento de todos os restantes. Se houver, porém, movente e movidos indefinidamente seguidos, não haverá um primeiro movente, mas serão todos movidos como intermediários. Logo, nenhum deles poderá mover-se e, assim, nada será movido no mundo.” (SCG., I, 13, 14)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Contra os Gentios – volume 1. Porto Alegre: Sulina; UCS; ESTSLB. 1990.
“In moventibus et motis ordinatis, quorum scilicet unum per ordinem ab alio movetur, hoc necesse est inveniri, quod, remoto primo movente vel cessante a motione, nullum aliorum movebit neque movebitur: quia primum est causa movendi omnibus aliis. Sed si sint moventia et mota per ordinem in infinitum, non erit aliquod primum movens, sed omnia erunt quasi media moventia. Ergo nullum aliorum poterit moveri. Et sic nihil movebitur in mundo.” (SCG., I, 13, 14) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/scg1010.html
“É o seguinte: aquilo que move como instrumento não pode mover a não ser havendo algo que inicialmente o mova. Mas, pelo processo ao infinito dos moventes e movidos, todas as coisas serão instrumentalmente moventes, porquanto todas estarão como moventes e movidas e, assim, nada estará como movente inicial. Logo, nada será movido.” (SCG., I, 13, 15)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Contra os Gentios – volume 1. Porto Alegre: Sulina; UCS; ESTSLB. 1990.
“Et est talis. Id quod movet instrumentaliter, non potest movere nisi sit aliquid quod principaliter moveat. Sed si in infinitum procedatur in moventibus et motis, omnia erunt quasi instrumentaliter moventia, quia ponentur sicut moventia mota, nihil autem erit sicut principale movens. Ergo nihil movebitur.” (SCG., I, 13, 15) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/scg1010.html
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Contra os Gentios – volume 1. Porto Alegre: Sulina; UCS; ESTSLB. 1990
Aula 5 – Deus é? A segunda via: a causa eficiente – parte 1 (STh., I, q.2, a.3)
Este vídeo é sobre o terceiro artigo da segunda questão da primeira parte da Suma Teológica. Busca-se aqui esclarecer a noção de causa eficiente, a partir da qual se fundamenta a segunda via pela qual São Tomás demonstra que Deus é. Toma-se como base o comentário de São Tomás à Metafísica de Aristóteles, para esclarecer que há quatro causas nas coisas materiais – a material, a formal, a eficiente e a final – e que é pela causa eficiente que se inicia todo movimento.
Textos:
“Daí ser evidente que a forma é uma causa. Outra causa é, pois, a causa material. A terceira causa é a eficiente, por isso, é o princípio do movimento. A quarta causa é a final, que se opõe à causa eficiente, como a oposição que há entre o princípio e o fim. Ora, o movimento começa pela causa eficiente e termina com a causa final. E essa é, pois, aquela causa pela qual algo é feito e que é o bem de qualquer natureza.” (In Met., I, 4, 2)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Comentário à Metafísica de Aristóteles I-IV: volume I. Edição e tradução de Paulo Faitanin e Bernardo Veiga. Campinas: Vide Editoral. 2016.
“Unde patet quod forma est causa. Alia vero causa est materialis. Tertia vero causa est efficiens, quae est unde principium motus. Quarta causa est finalis, quae opponitur causae efficienti secundum oppositionem principii et finis. Nam motus incipit a causa efficiente, et terminatur ad causam finalem. Et hoc est etiam cuius causa fit aliquid, et quae est bonum uniuscuiusque naturae.” (In Met., I, 4, 2) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/cmp0104.html
“Diz, então, que alguns filósofos assim procederam colocando uma causa material, mas a própria natureza da coisa claramente lhes deu um caminho para conhecer ou descobrir a verdade e lhes obrigou a investigar a questão que os levou à causa eficiente, que é a seguinte: nenhuma coisa ou sujeito muda por si mesmo, como a madeira não se muda por geração em uma cama, nem o bronze é a causa da sua própria mudança, pela qual chega a ser uma estátua. Ora, é preciso que outra coisa seja a causa dessa mudança, que é o artista. Ora, os que afirmaram uma ou muitas causas materiais disseram que a geração e a corrupção das coisas vêm desse sujeito. Portanto, é preciso que haja uma outra causa da mudança e isso é investigar outro tipo de princípio e de causa, que é chamada princípio do movimento.” (In Met., I, 5, 1)
“Dicit ergo: quidam philosophi sic processerunt in causa materiali ponenda; sed et ipsa rei evidens natura dedit eis viam ad veritatis cognitionem vel inventionem, et coegit eos quaerere dubitationem quamdam quae inducit in causam efficientem, quae talis est. Nulla res vel subiectum transmutat seipsum, sicut lignum non transmutat seipsum ut ex eo lectus fiat: nec aes est sibi causa transmutandi, ut ex eo fiat statua: sed oportet aliquid aliud esse quod est eis mutationis causa, quod est artifex. Sed ponentes causam materialem unam vel plures, dicebant ex ea sicut ex subiecto fieri generationem et corruptionem rerum: ergo oportet quod sit aliqua alia causa mutationis; et hoc est quaerere aliud genus principii et causae, quod nominatur, unde principium motus et cetera.” (In Met., I, 5, 1)
“A eficiente é causa do fim quanto ao ser, porque a eficiente movendo leva a isso que é o fim. Contudo, a final é causa da eficiente não quanto ao ser, mas quanto à razão da causalidade. De fato, a causa eficiente é causa enquanto age, mas não age senão por causa do fim. Por isso, a partir do fim tem sua causalidade eficiente.” (In Met., V, 2, 13)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Comentário à Metafísica de Aristóteles V-VIII: volume 2. Edição e tradução de Paulo Faitanin e Bernardo Veiga. Campinas: Vide Editorial. 2017.
Efficiens est causa finis quantum ad esse quidem, quia movendo perducit efficiens ad hoc, quod sit finis. Finis autem est causa efficientis non quantum ad esse, sed quantum ad rationem causalitatis. Nam efficiens est causa inquantum agit: non autem agit nisi causa finis. Unde ex fine habet suam causalitatem efficiens. (In Met., V, 2, 13) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/cmp05.html
“A causa eficiente é causa da causalidade da matéria e da forma. De fato, por seu movimento, faz com que a matéria seja receptiva da forma e que a forma exista na matéria.” (In Met., V, 3, 6)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Comentário à Metafísica de Aristóteles V-VIII: volume 2. Edição e tradução de Paulo Faitanin e Bernardo Veiga. Campinas: Vide Editorial. 2017.
“Efficiens autem est causa causalitatis et materiae et formae. Nam facit per suum motum materiam esse susceptivam formae, et formam inesse materiae.” (In Met., V, 3, 6) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/cmp05.html
Aula 6 – Deus é? A segunda via: a causa eficiente – parte 2 (STh., I, q.2, a.3)
Este vídeo é sobre o terceiro artigo da segunda questão da primeira parte da Suma Teológica. Utilizamos como texto auxiliar o capítulo 13 do primeiro livro da Suma Contra os Gentios, que também trata das vias para demonstrar que Deus é. Busca-se aqui esclarecer a segunda via, fundamentada na causa eficiente, para provar que Deus é segundo São Tomás de Aquino. Assim, tomam-se como base as coisas sensíveis e se apresenta que não é possível que uma coisa seja causa eficiente de si mesma, pois é impossível que uma coisa seja anterior a si mesma. Além disso, não é possível continuar em uma sucessão infinita de causas eficientes. Logo, é necessário que haja uma causa eficiente primeira, princípio primeiro de todo movimento, que é Deus.
Textos:
“A segunda via parte da razão de causa eficiente. Encontramos nas realidades sensíveis a existência de uma ordem entre as causas eficientes; mas não se encontra, nem é possível, algo que seja a causa eficiente de si próprio, porque desse modo seria anterior a si próprio: o que é impossível. Ora, tampouco é possível, entre as causas eficientes, continuar até o infinito, porque entre todas as causas eficientes ordenadas, a primeira é a causa das intermediárias e as intermediárias são a causa da última, sejam elas numerosas ou apenas uma. Por outro lado, supressa a causa, suprime-se também o efeito. Portanto, se não existisse a primeira entre as causas eficientes, não haveria a última nem a intermediária. Mas se tivéssemos de continuar até o infinito na série das causas eficientes, não haveria causa primeira; assim sendo, não haveria efeito último, nem causa eficiente intermediária, o que evidentemente é falso. Logo, é necessário afirmar uma causa eficiente primeira, a que todos chamam Deus.” (STh., I, q.2, a.3, resp.)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. São Paulo: Loyola. 2ªed. 2003.
“Secunda via est ex ratione causae efficientis. Invenimus enim in istis sensibilibus esse ordinem causarum efficientium, nec tamen invenitur, nec est possibile, quod aliquid sit causa efficiens sui ipsius; quia sic esset prius seipso, quod est impossibile. Non autem est possibile quod in causis efficientibus procedatur in infinitum. Quia in omnibus causis efficientibus ordinatis, primum est causa medii, et medium est causa ultimi, sive media sint plura sive unum tantum, remota autem causa, removetur effectus, ergo, si non fuerit primum in causis efficientibus, non erit ultimum nec medium. Sed si procedatur in infinitum in causis efficientibus, non erit prima causa efficiens, et sic non erit nec effectus ultimus, nec causae efficientes mediae, quod patet esse falsum. Ergo est necesse ponere aliquam causam efficientem primam, quam omnes Deum nominant.” (STh., I, q.2, a.3, resp.) Link do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1002.html
“Segue ainda o Filósofo (II Metafísica 2, 994a) uma outra via para provar que não se pode proceder indefinidamente nas causas eficientes, mas que se deve chegar a uma causa primeira que é Deus. Trata-se da seguinte via: em todas as causas eficientes ordenadas, o primeiro é causa do intermediário, e o intermediário é causa do último, quer haja só um ou muitos intermediários. Ora, removida a causa, removido também será aquilo de que ela é causa. Logo, removido o primeiro, o intermediário não poderá mais ser causa. Procedendo-se, porém, indefinidamente em causas eficientes, nenhuma delas será a primeira. Logo, todas as outras seriam removidas, visto serem intermediárias. Mas isto é evidentemente falso. Portanto, necessário é afirmar-se que há uma primeira causa eficiente, que é Deus.” (SCG., I, 13, 33)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Contra os Gentios – volume 1. Porto Alegre: Sulina; UCS; ESTSLB. 1990.
“Procedit autem philosophus alia via in II Metaphys., ad ostendendum non posse procedi in infinitum in causis efficientibus, sed esse devenire ad unam causam primam: et hanc dicimus Deum. Et haec via talis est. In omnibus causis efficientibus ordinatis primum est causa medii, et medium est causa ultimi: sive sit unum, sive plura media. Remota autem causa, removetur id cuius est causa. Ergo, remoto primo, medium causa esse non poterit. Sed si procedatur in causis efficientibus in infinitum, nulla causarum erit prima. Ergo omnes aliae tollentur, quae sunt mediae. Hoc autem est manifeste falsum. Ergo oportet ponere primam causam efficientem esse. Quae Deus est.” (SCG., I, 13, 33) Link do site: http://www.corpusthomisticum.org/scg1010.html
Aula 7 – Deus é? A terceira via: o possível e o necessário – parte 1 (STh., I, q.2, a.3)
Este vídeo é sobre o terceiro artigo da segunda questão da primeira parte da Suma Teológica. Busca-se aqui esclarecer os dois modos de possível e a sua relação com o que é necessário, e a partir dessas noções se fundamenta a terceira via pela qual São Tomás demonstra que Deus é. Toma-se como base o comentário de São Tomás à Metafísica de Aristóteles, para esclarecer que há um modo de possível que se opõe à necessidade e outro modo de possível que se opõe ao impossível, no sentido de ser comum às coisas necessárias e contingentes.
Textos:
“Possível se diz de dois modos. De um modo, segundo que se divide contra a necessidade; assim como chamamos possíveis aquelas coisas que podem ser e não ser.” (In Met., IX, 3, 17) – Tradução nossa. Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/cmp09.html
“(…) Possibile dupliciter dicitur. Uno modo secundum quod dividitur contra necesse; sicut dicimus illa possibilia quae contingunt esse et non esse.” (In Met., IX, 3, 17)
“De outro modo, possível se diz segundo que é comum às coisas que são necessárias e às coisas que podem ser e não ser, enquanto possível se divide contra o impossível.” (In Met., IX, 3, 18) – Tradução nossa.
“Alio vero modo possibile dicitur secundum quod est commune ad ea quae sunt necessaria, et ad ea quae contingunt esse et non esse, prout possibile contra impossibile dividitur.” Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/cmp09.html
Aula 8 – Deus é? A terceira via: o possível e o necessário – parte 2 (STh., I, q.2, a.3)
Este vídeo é sobre o terceiro artigo da segunda questão da primeira parte da Suma Teológica. Utilizamos aqui como texto auxiliar o capítulo 15 do primeiro livro da Suma Contra os Gentios, que mostra que Deus é eterno. Busca-se aqui esclarecer a terceira via, fundamentada na noção de possível e necessário, que demonstra que Deus é segundo São Tomás de Aquino. Assim, toma-se como base que as coisas contingentes não podem ser sempre, pois o que pode não ser em algum momento não é. Assim, se só houvesse coisas contingentes, em algum momento, nada haveria, o que é impossível. Assim deve haver um ser necessário; e esse ser deve ter a sua necessidade por si. Com efeito, não é suficiente afirmar apenas a existência de um necessário por outro, porque deveria haver outro necessário; e, assim, ou haveria uma sucessão infinita de necessários por outro, o que é impossível, ou se chegaria a um necessário por si. E esse necessário por si é Deus.
Textos:
“A terceira via, que é tomada do possível e do necessário, é a seguinte. Encontramos, entre as coisas, as que podem ser e não ser, uma vez que algumas se encontram geradas e corrompidas. Consequentemente, podem ser e não ser. Mas é impossível ser para sempre o que é de tal natureza, pois o que pode não ser não é em algum momento. Se tudo pode não ser, houve um momento em que nada havia. Ora, se isso é verdadeiro, ainda agora nada existiria; pois o que não é só passa a ser por intermédio de algo que já é. Por conseguinte, se não houve ente algum, foi impossível que algo começasse a ser; logo, hoje, nada existiria; o que é falso. Assim, nem todos os entes são possíveis, mas é preciso que algo seja necessário entre as coisas. Ora, tudo o que é necessário tem, ou não, a causa de sua necessidade de um outro. Aqui também não é possível continuar até o infinito na série das coisas necessárias que têm uma causa da própria necessidade, assim como entre as causas eficientes, como se provou. Portanto, é necessário afirmar a existência de algo necessário por si mesmo, que não encontra alhures a causa de sua necessidade, mas que é causa da necessidade para os outros: o que todos chamam Deus.” (STh., I, q.2, a.3, resp.)
Livro citado (com uma pequena alteração para melhor compreensão do texto): TOMÁS DE AQUINO, Suma Teológica – volume 1. São Paulo: Loyola. 2ªed. 2003.
“Tertia via est sumpta ex possibili et necessario, quae talis est. Invenimus enim in rebus quaedam quae sunt possibilia esse et non esse, cum quaedam inveniantur generari et corrumpi, et per consequens possibilia esse et non esse. Impossibile est autem omnia quae sunt, talia esse, quia quod possibile est non esse, quandoque non est. Si igitur omnia sunt possibilia non esse, aliquando nihil fuit in rebus. Sed si hoc est verum, etiam nunc nihil esset, quia quod non est, non incipit esse nisi per aliquid quod est; si igitur nihil fuit ens, impossibile fuit quod aliquid inciperet esse, et sic modo nihil esset, quod patet esse falsum. Non ergo omnia entia sunt possibilia, sed oportet aliquid esse necessarium in rebus. Omne autem necessarium vel habet causam suae necessitatis aliunde, vel non habet. Non est autem possibile quod procedatur in infinitum in necessariis quae habent causam suae necessitatis, sicut nec in causis efficientibus, ut probatum est. Ergo necesse est ponere aliquid quod sit per se necessarium, non habens causam necessitatis aliunde, sed quod est causa necessitatis aliis, quod omnes dicunt Deum.” (STh., I, q.2, a.3, resp.) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1002.html
Para melhor compreensão do próximo texto, optamos por uma tradução com elementos da edição em conjunto da Sulina, UCS e ESTSLB com a da Loyola.
“Observamos no mundo certas coisas que podem ser e não ser, a saber, as geráveis e corruptíveis. Ora, tudo que é possível de ser tem causa, porque enquanto por si mesmo refere-se a dois termos, isto é, ao ser e ao não ser, necessita, se o ser lhe for apropriado, de que tal se dê proveniente de uma causa. Mas como nas causas não se pode proceder indefinidamente, como acima foi demonstrado por argumentação de Aristóteles, há de se admitir algo que seja necessariamente ser. Na verdade, tudo o que é necessário ou tem a causa de sua necessidade de outro, ou não; e assim é necessário por si mesmo. Ora, não se pode proceder ao infinito naquilo que é necessário e que tem a causa de sua necessidade de outro. Logo, é necessário afirmar um primeiro necessário, que é por si mesmo necessário. E este é Deus; uma vez que é a causa primeira, como foi demonstrado. Deus é, portanto, eterno, uma vez que todo necessário por si é eterno.” (SCG., I, 15, 5)
Livros citados: TOMÁS DE AQUINO. Suma Contra os Gentios – volume 1. Porto Alegre: Sulina; UCS; ESTSLB. 1990. E TOMÁS DE AQUINO. Suma Contra os Gentios – volume 1. São Paulo: Loyola. 2015.
“Videmus in mundo quaedam quae sunt possibilia esse et non esse, scilicet generabilia et corruptibilia. Omne autem quod est possibile esse, causam habet: quia, cum de se aequaliter se habeat ad duo, scilicet esse et non esse, oportet, si ei approprietur esse, quod hoc sit ex aliqua causa. Sed in causis non est procedere in infinitum, ut supra probatum est per rationem Aristotelis. Ergo oportet ponere aliquid quod sit necesse-esse. Omne autem necessarium vel habet causam suae necessitatis aliunde; vel non, sed est per seipsum necessarium. Non est autem procedere in infinitum in necessariis quae habent causam suae necessitatis aliunde. Ergo oportet ponere aliquod primum necessarium, quod est per seipsum necessarium. Et hoc Deus est: cum sit causa prima, ut ostensum est. Est igitur Deus aeternus: cum omne necessarium per se sit aeternum.” (SCG., I, 15, 5) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/scg1014.html
Aula 9 – Deus é? A quarta via: os graus das coisas – parte 1 (STh., I, q.2, a.3)
Este vídeo é sobre o terceiro artigo da segunda questão da primeira parte da Suma Teológica. Busca-se aqui esclarecer a noção de participação, para compreender melhor os graus das coisas, a partir dos quais se fundamenta a quarta via pela qual São Tomás demonstra que Deus é. Toma-se como base o capítulo 22 do primeiro livro da Suma Contra os Gentios e o capítulo 15 do segundo livro dessa obra. Além disso, considera-se o artigo 4 da sexta questão da primeira parte da Suma Teológica. Assim, o objetivo é distinguir as coisas que são por participação e o que é por essência, este último é Deus.
Textos:
“Nenhuma coisa cuja essência não é o seu ser é pela sua essência, mas o é por participação de outro, isto é, do ser. O que é por participação de outro não pode ser o primeiro ente (primum ens), porque aquilo de que uma coisa participa para poder ser lhe é anterior. Ora, Deus é o primeiro ente (primum ens), ao qual nada é anterior. Logo, a essência de Deus é o seu ser.” (SCG., I, 22, 9)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Contra os Gentios – volume 1. Porto Alegre: Sulina; UCS; ESTSLB. 1990.
“Nulla igitur res cuius essentia non est suum esse, est per essentiam suam, sed participatione alicuius, scilicet ipsius esse. Quod autem est per participationem alicuius, non potest esse primum ens: quia id quod aliquid participat ad hoc quod sit, est eo prius. Deus autem est primum ens, quo nihil est prius. Dei igitur essentia est suum esse.” (SCG., I, 22, 9) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/scg1014.html
“Além disso, o que é por essência é causa de tudo o que é por participação, como, por exemplo, o fogo é causa de tudo o que é ígneo como tal. Ora, Deus é ente pela sua essência (Deus autem est ens per essentiam suam), porque é o próprio ser. Mas todo outro ente é ente por participação, porque o ente que se identifica com o seu ser não pode ser senão um só, como foi demonstrado (l. I, c. XLII). Logo, Deus é causa do ser de todas as coisas.” (SCG., II, 15, 5)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Contra os Gentios – volume 1. Porto Alegre: Sulina; UCS; ESTSLB. 1990.
“Quod per essentiam dicitur, est causa omnium quae per participationem dicuntur: sicut ignis est causa omnium ignitorum inquantum huiusmodi. Deus autem est ens per essentiam suam: quia est ipsum esse. Omne autem aliud ens est ens per participationem: quia ens quod sit suum esse non potest esse nisi unum ut in primo ostensum est. Deus igitur est causa essendi omnibus aliis.” (SCG., II, 15, 5) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/scg2006.html
“Portanto, a partir deste primeiro que é ente e bom por essência, cada coisa pode ser dita boa e ente, enquanto dele participa por certa assimilação, mesmo longínqua e deficiente, como mostrou o artigo precedente. Daí que cada coisa é chamada boa em razão da bondade divina, como primeiro princípio exemplar, eficiente e finalizador de toda bondade. No entanto, cada coisa é ainda denominada boa em razão da semelhança com a bondade divina que lhe é inerente; e que é formalmente sua bondade, pela qual se denomina boa. Existem, portanto, a bondade única de todas as coisas e as múltiplas bondades.” (STh., I, q.6, a.4, resp.)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. São Paulo: Loyola. 2ªed. 2003.
“A primo igitur per suam essentiam ente et bono, unumquodque potest dici bonum et ens, inquantum participat ipsum per modum cuiusdam assimilationis, licet remote et deficienter, ut ex superioribus patet. Sic ergo unumquodque dicitur bonum bonitate divina, sicut primo principio exemplari, effectivo et finali totius bonitatis. Nihilominus tamen unumquodque dicitur bonum similitudine divinae bonitatis sibi inhaerente, quae est formaliter sua bonitas denominans ipsum. Et sic est bonitas una omnium; et etiam multae bonitates.” (STh., I, q.6, a.4, resp.) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1003.html
Aula 10 – Deus é? A quarta via: os graus das coisas – parte 2 (STh., I, q.2, a.3)
Este vídeo é sobre o terceiro artigo da segunda questão da primeira parte da Suma Teológica. Utilizamos aqui como texto auxiliar o capítulo 13 do primeiro livro da Suma Contra os Gentios, que também trata das vias para demonstrar que Deus é. Assim, toma-se como base que nas coisas há certo grau maior ou menor sobre o bem, ou nobre e outras coisas. E essa gradação é fundamentada naquilo que é máximo em determinado grau, que é a causa daquilo que está no gênero desse grau. Assim, há algo que é máximo para todos os entes, causa das suas perfeições, enquanto estes participam desse ser que possui o grau máximo de todas as perfeições, que é Deus.
Textos:
“A quarta via se toma dos graus que se encontram nas coisas. Encontra-se nas coisas algo mais ou menos verdadeiro, mais ou menos bom, mais ou menos nobre etc. Ora, mais e menos se dizem de coisas diversas conforme elas se aproximam diferentemente daquilo que é em si o máximo. Assim, mais quente é o que mais se aproxima do que é sumamente quente. Existe em grau supremo algo verdadeiro, bom, nobre e, consequentemente, o ente em grau supremo, pois, como se mostra no livro II da Metafísica, o que é em sumo grau verdadeiro é ente em sumo grau. Por outro lado, o que se encontra no mais algo grau em determinado gênero é causa de tudo que é desse gênero: assim o fogo, que é quente, no mais algo grau, é causa do calor de todo e qualquer corpo aquecido, como é explicado no mesmo livro. Existe então algo que é, para todos os outros entes, causa de ser, de bondade e de toda a perfeição: nós o chamamos Deus.” (STh., I, q.2, a.3, resp.)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. São Paulo: Loyola. 2ªed. 2003.
“Quarta via sumitur ex gradibus qui in rebus inveniuntur. Invenitur enim in rebus aliquid magis et minus bonum, et verum, et nobile, et sic de aliis huiusmodi. Sed magis et minus dicuntur de diversis secundum quod appropinquant diversimode ad aliquid quod maxime est, sicut magis calidum est, quod magis appropinquat maxime calido. Est igitur aliquid quod est verissimum, et optimum, et nobilissimum, et per consequens maxime ens, nam quae sunt maxime vera, sunt maxime entia, ut dicitur II Metaphys. Quod autem dicitur maxime tale in aliquo genere, est causa omnium quae sunt illius generis, sicut ignis, qui est maxime calidus, est causa omnium calidorum, ut in eodem libro dicitur. Ergo est aliquid quod omnibus entibus est causa esse, et bonitatis, et cuiuslibet perfectionis, et hoc dicimus Deum.” (STh., I, q.2, a.3, resp.) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1002.html
“Dos textos de Aristóteles, pode-se tirar um outro argumento. Mostra ele (II Metafísica 993b) que as coisas ao máximo verdadeiras, são também entes ao máximo. Mas (IV Metafísica, 1008b) ele mostra que há algo ao máximo verdadeiro, concluindo isso de que, por haver duas coisas falsas, sendo uma mais que outra, deve haver também uma mais verdadeira que a outra, conforme esteja mais próxima daquilo que é ao máximo e simplesmente verdadeiro. Infere-se daí haver algo que é ente ao máximo. Este algo dizemos ser Deus.” (SCG., I, 13, 34)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Contra os Gentios – volume 1. Porto Alegre: Sulina; UCS; ESTSLB. 1990.
“Potest etiam alia ratio colligi ex verbis Aristotelis. In II enim Metaphys. ostendit quod ea quae sunt maxime vera, sunt et maxime entia. In IV autem Metaphys. ostendit esse aliquid maxime verum, ex hoc quod videmus duorum falsorum unum altero esse magis falsum, unde oportet ut alterum sit etiam altero verius; hoc autem est secundum approximationem ad id quod est simpliciter et maxime verum. Ex quibus concludi potest ulterius esse aliquid quod est maxime ens. Et hoc dicimus Deum.” (SCG., I, 13, 34) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/scg1010.html
Aula 11 – Deus é? A quinta via: o governo das coisas – parte 1 (STh., I, q.2, a.3)
Este vídeo é sobre o terceiro artigo da segunda questão da primeira parte da Suma Teológica. Busca-se aqui esclarecer a noção do governo das coisas, a partir do qual se fundamenta a quinta via pela qual São Tomás demonstra que Deus é. Toma-se como base o capítulo 64 do terceiro livro da Suma Contra os Gentios e o artigo 2 da primeira questão da primeira parte da segunda parte da Suma Teológica. Mostra-se que governar e reger pela providência consiste em mover algo pelo intelecto e que Deus, por sua providência, rege e governa todas as coisas para o fim delas, tanto as substâncias intelectuais, quanto as não intelectuais, mas de modo diferente, conforme a distinção de cada coisa.
Textos:
“Além disso, foi demonstrado (l. I, c. CIII), que Deus é o primeiro movente não movido. Ora, o primeiro movente não move menos, porém, mais que os moventes segundos, os quais sem aquele não movem os demais. Além disso, tudo que é movido o é por causa do fim como acima foi demonstrado (c. II). Por isso, todas as coisas são movidas por Deus para o fim. E Deus as move pelo intelecto, como acima foi demonstrado (l. I, c. LXXXI; l. II, cc. XXIIIss). Deus não opera por necessidade natural, mas pelo intelecto e pela vontade. Ora, reger e governar pela providência nada mais é que mover algo para o fim mediante o intelecto. Logo, Deus, por sua Providência, governa e rege todas as coisas que se movem para o fim, quer sejam movidas corporalmente, quer espiritualmente, como se diz que quem deseja é movido pelo desejado.” (SCG., III, 64, 4)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Contra os Gentios – volume 2. Porto Alegre: EDIPUCRS; EST. 1996.
“Amplius. Ostensum est quod Deus est primum movens non motum. Primum autem movens non minus movet quam secunda moventia, sed magis: quia sine eo non movent alia. Omnia autem quae moventur, moventur propter finem, ut supra ostensum est. Movet igitur Deus omnia ad fines suos. Et per intellectum: ostensum enim est supra quod non agit per necessitatem naturae, sed per intellectum et voluntatem. Nihil est autem aliud regere et gubernare per providentiam quam movere per intellectum aliqua ad finem. Deus igitur per suam providentiam gubernat et regit omnia quae moventur in finem: sive moveantur corporaliter; sive spiritualiter, sicut desiderans dicitur moveri a desiderato.” (SCG., III, 64, 4) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/scg3064.html
“É necessário que todo agente aja em vista do fim, pois das causas ordenadas entre si, se a primeira for supressa, sê-lo-ão também as outras. A primeira de todas as causas é a causa final. A razão disso é que a matéria não segue a forma senão movida pelo agente, pois nada passa por si mesmo de potência a ato. Ademais, o agente não move senão pela intenção do fim. Se, pois, o agente não fosse determinado para um efeito, não faria isso em vez daquilo. Portanto, para que produza um efeito determinado, é necessário que esteja determinado a algo certo que tenha a razão de fim. Esta determinação, como na natureza racional, faz-se pelo apetite racional, que se chama vontade; nas outras coisas faz-se pela inclinação natural que se chama apetite natural. Deve-se considerar, entretanto, que uma coisa tende para o fim por sua ação ou por movimento, de duas maneiras: primeira, como o homem, que por si mesmo se move para o fim; segunda, como movida por outro para o fim, como a seta tende para determinado fim, porque é movida pelo sagitário, que dirige sua ação para o fim. Portanto, os que são dotados de razão movem-se para o fim, porque têm o domínio de seus atos pelo livre-arbítrio, que é a faculdade da vontade e da razão. As coisas, porém, carentes de razão tendem para o fim por inclinação natural, movidas que são por outras, não por si mesmas, porque não conhecem a razão de fim. Assim, não podem ordenar coisa alguma para o fim, mas são somente ordenadas por outrem para o fim. Assim, toda natureza irracional está para Deus como o instrumento para o agente principal, como foi estabelecido anteriormente. Portanto, é próprio da natureza racional tender para o fim agindo por si mesma e se conduzindo para o fim; da natureza irracional, porém, atuada ou conduzida por outro, quer para o fim apreendido, como os animais, quer para o fim não apreendido, como acontece com as coisas que totalmente carecem de conhecimento.” (STh., I-II, q.1, a.2, resp.)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 3. Loyola: São Paulo. 2003
“Respondeo dicendum quod omnia agentia necesse est agere propter finem. Causarum enim ad invicem ordinatarum, si prima subtrahatur, necesse est alias subtrahi. Prima autem inter omnes causas est causa finalis. Cuius ratio est, quia materia non consequitur formam nisi secundum quod movetur ab agente, nihil enim reducit se de potentia in actum. Agens autem non movet nisi ex intentione finis. Si enim agens non esset determinatum ad aliquem effectum, non magis ageret hoc quam illud, ad hoc ergo quod determinatum effectum producat, necesse est quod determinetur ad aliquid certum, quod habet rationem finis. Haec autem determinatio, sicut in rationali natura fit per rationalem appetitum, qui dicitur voluntas; ita in aliis fit per inclinationem naturalem, quae dicitur appetitus naturalis. Tamen considerandum est quod aliquid sua actione vel motu tendit ad finem dupliciter, uno modo, sicut seipsum ad finem movens, ut homo; alio modo, sicut ab alio motum ad finem, sicut sagitta tendit ad determinatum finem ex hoc quod movetur a sagittante, qui suam actionem dirigit in finem. Illa ergo quae rationem habent, seipsa movent ad finem, quia habent dominium suorum actuum per liberum arbitrium, quod est facultas voluntatis et rationis. Illa vero quae ratione carent, tendunt in finem per naturalem inclinationem, quasi ab alio mota, non autem a seipsis, cum non cognoscant rationem finis, et ideo nihil in finem ordinare possunt, sed solum in finem ab alio ordinantur. Nam tota irrationalis natura comparatur ad Deum sicut instrumentum ad agens principale, ut supra habitum est. Et ideo proprium est naturae rationalis ut tendat in finem quasi se agens vel ducens ad finem, naturae vero irrationalis, quasi ab alio acta vel ducta, sive in finem apprehensum, sicut bruta animalia, sive in finem non apprehensum, sicut ea quae omnino cognitione carent.” (STh., I-II, q.1, a.2, resp.) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth2001.html
Aula 12 – Deus é? A quinta via: o governo das coisas – parte 2 (STh., I, q.2, a.3)
Este é último vídeo sobre o terceiro artigo da segunda questão da primeira parte da Suma Teológica. Utilizamos aqui como texto auxiliar o capítulo 13 do primeiro livro da Suma Contra os Gentios, que também trata das vias para demonstrar que Deus é. Assim, toma-se como base que as coisas que carecem de conhecimento agem em vista de um fim, em função de alguma intenção. Mas como elas não têm um conhecimento, é necessário que haja um ser inteligente pelo qual todas essas coisas são ordenadas ao fim, que é Deus.
Textos:
“A quinta via é tomada do governo das coisas. Com efeito, vemos que algumas coisas que carecem de conhecimento, como os corpos físicos, agem em vista de um fim, o que se manifesta pelo fato de que sempre, ou na maioria das vezes, agem da mesma maneira, a fim de alcançarem o que é ótimo. Fica claro que não é por acaso, mas em virtude de uma intenção, que alcançam o fim. Ora, aquilo que não tem conhecimento não tende a um fim, a não ser dirigido por algo que conhece e que é inteligente, como a flecha pelo arqueiro. Logo, existe algo inteligente pelo qual todas as coisas naturais são ordenadas ao fim, e a isso nós chamamos Deus.” (STh., I, q.2, a.3, resp.)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica – volume 1. São Paulo: Loyola. 2ªed. 2003.
“Quinta via sumitur ex gubernatione rerum. Videmus enim quod aliqua quae cognitione carent, scilicet corpora naturalia, operantur propter finem, quod apparet ex hoc quod semper aut frequentius eodem modo operantur, ut consequantur id quod est optimum; unde patet quod non a casu, sed ex intentione perveniunt ad finem. Ea autem quae non habent cognitionem, non tendunt in finem nisi directa ab aliquo cognoscente et intelligente, sicut sagitta a sagittante. Ergo est aliquid intelligens, a quo omnes res naturales ordinantur ad finem, et hoc dicimus Deum.” (STh., I, q.2, a.3, resp.) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/sth1002.html
“Para provar o mesmo, Damasceno (I A fé Ortodoxa 3; PG 94, 795C-D) aduz um outro argumento tirado do governo das coisas, indicado também pelo Comentador (Física; Averróis c. 75). É o seguinte: é impossível que as coisas contrárias e dissonantes estejam sempre, ou muitas vezes, concordes em uma só ordem, a não ser que estejam também sob o governo de alguém pelo qual é dado a todas e a cada uma dirigirem-se para determinado fim. Ora, vemos no mundo as coisas concordes em uma ordem, não raramente nem por acaso, mas sempre e na maioria das vezes. Deve, por conseguinte, haver alguém por cuja providência o mundo é governado. E a este chamamos Deus.” (SCG., I, 13, 35)
Livro citado: TOMÁS DE AQUINO. Suma Contra os Gentios – volume 1. Porto Alegre: Sulina; UCS; ESTSLB. 1990.
“Ad hoc etiam inducitur a Damasceno alia ratio sumpta ex rerum gubernatione: quam etiam innuit Commentator in II physicorum. Et est talis. Impossibile est aliqua contraria et dissonantia in unum ordinem concordare semper vel pluries nisi alicuius gubernatione, ex qua omnibus et singulis tribuitur ut ad certum finem tendant. Sed in mundo videmus res diversarum naturarum in unum ordinem concordare, non ut raro et a casu, sed ut semper vel in maiori parte. Oportet ergo esse aliquem cuius providentia mundus gubernetur. Et hunc dicimus Deum.” (SCG., I, 13, 35) Texto do site: http://www.corpusthomisticum.org/scg1010.html